França promove Dreyfus a general e cria data anual sobre caso histórico

O governo francês aprovou nesta quarta-feira (19) a promoção póstuma de Alfred Dreyfus ao posto de general de brigada, em uma reparação histórica ao capitão judeu injustamente condenado por traição em 1894. A medida foi acompanhada pela criação de um dia anual de comemoração do "Caso Dreyfus", a ser celebrado todo 12 de julho, conforme decreto do presidente Emmanuel Macron.

O capitão Dreyfus foi acusado de transmitir informações sigilosas à Alemanha com base em um documento encontrado no lixo do adido militar alemão. O julgamento, marcado por forte antissemitismo, resultou em sua condenação à prisão perpétua na Ilha do Diabo, na Guiana Francesa, mesmo sem provas concretas.

Revisão histórica

Após mais de dez anos de prisão em condições terríveis, Dreyfus teve seu veredito anulado em 1906 e retornou ao exército francês, onde chegou a lutar na Primeira Guerra Mundial. A investigação do caso pelo chefe de inteligência Georges Picquart havia identificado que o verdadeiro autor da carta era o major Ferdinand Walsin Esterházy, mas Picquart foi preso e expulso do exército por revelar essa informação.

O caso Dreyfus é considerado um marco no surgimento do movimento sionista, após ser testemunhado pelo jornalista Theodor Herzl, que cobria os eventos como correspondente em Paris. A experiência levou Herzl a concluir que os judeus precisavam de um Estado próprio, ideia que culminou no primeiro Congresso Sionista Mundial em 1897 na Basileia, Suíça.

Impacto histórico

O processo contra Dreyfus revelou profundas divisões na sociedade francesa e expôs o antissemitismo enraizado no establishment militar. Historiadores apontam que a perseguição ao capitão tinha como motivação real impedir que um judeu alcançasse altos postos no exército francês.

A cerimônia de degradação de Dreyfus, em que foi publicamente destituído de sua espada e insígnias, tornou-se símbolo da injustiça do caso. A revisão judicial só foi possível após intensa campanha de intelectuais e jornalistas, incluindo o famoso artigo "J'Accuse...!" de Émile Zola.

Contexto atual

A reparação ocorre em um momento de gestões contraditórias do governo francês sobre questões judaicas e palestinas. Enquanto promove a memória de Dreyfus, a França recentemente reconheceu o Estado Palestino em uma decisão classificada como simbólica pela imprensa internacional.

Especialistas em relações internacionais avaliam que as homenagens a Dreyfus representam um esforço do governo Macron em enfrentar capítulos sombrios da história francesa, seguindo tendência similar a outros países europeus que revisaram seus processos históricos envolvendo minorias.