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Influenciador Nego Di é alvo de novo processo por estelionato após show lotado

Influenciador Nego Di é alvo de novo processo por estelionato após show lotado

Humorista, que já foi condenado por fraude, é acusado de aplicar golpes em 64 pessoas após apresentação de sucesso.

Redação
Redação

15 de dezembro de 2025 ·

O humorista e influenciador digital Nego Di, cujo nome real é Diego Silva de Almeida, tornou-se réu em um novo processo por estelionato. A ação, movida em 2025, acusa o artista de aplicar golpes em 64 pessoas, conforme detalhado em reportagem do colunista Oscar Filho para o iG. O caso surge logo após o influenciador lotar um teatro em dezembro de 2025 com seu show "Diário de um ex-detento", onde narrava experiências do período em que esteve preso.

Nego Di havia sido condenado por estelionato em um processo anterior e cumpriu pena. Em 2024, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) concedeu-lhe liberdade provisória. A nova acusação coloca em evidência a discussão sobre a banalização de crimes na cultura do espetáculo e a transformação da notoriedade infame em produto de consumo.

Fenômeno cultural: do crime ao palco

O caso de Nego Di é apontado por analistas como sintomático de um fenômeno cultural mais amplo, onde a fama gerada por escândalos e crimes é capitalizada. “O palco não premia talento, premia notoriedade. E a internet ajuda porque o algoritmo não distingue mérito de infâmia, distingue engajamento”, observa o colunista Oscar Filho. A plateia que lotou o teatro para vê-lo consumiu, segundo a análise, a narrativa de um "personagem real" com um histórico criminal agregado ao seu repertório.

Especialistas em mídia destacam que a lógica dos algoritmos das redes sociais, que priorizam conteúdo com alto engajamento independente de seu contexto moral, amplifica esse fenômeno. Criminosos condenados por atos graves são frequentemente transformados em personagens de curiosidade pop, com suas histórias sendo consumidas como entretenimento.

Contexto de outros casos midiáticos

A trajetória de Nego Di ecoa outros casos brasileiros amplamente midiatizados. Elize Matsunaga, condenada pelo assassinato e esquartejamento do marido, o empresário Marcos Matsunaga, hoje em regime aberto, foi recentemente abordada por um fã para fotos na rua, fato tratado como curiosidade pela imprensa. Suzane von Richthofen, condenada pelo assassinato dos pais, mantém uma conta no Instagram com cerca de 100 mil seguidores, onde compartilha aspectos de sua vida "reconstruída" e de seu empreendedorismo artesanal.

A série de televisão "Tremembé", que se passa em um presídio de alta segurança e tem personagens inspirados em criminosos famosos, é citada como um elemento que cristalizou esse imaginário, humanizando condenados e deslocando o foco narrativo das vítimas para os autores dos crimes.

Debate sobre ressocialização e espetacularização

Juristas e sociólogos apontam a dualidade do fenômeno. Por um lado, existe um interesse público legítimo em acompanhar o processo de ressocialização de ex-detentos. Por outro, há o risco evidente de que a espetacularização de suas histórias incentive a banalização da violência e da fraude, transformando criminosos em celebridades. “A narrativa dominante não gira mais em torno do assassinato dos pais, mas da vida prática, do empreendedorismo artesanal, da rotina ‘reconstruída’”, comenta Filho sobre o caso Suzane.

O debate questiona por que figuras condenadas por crimes graves recebem tanto espaço midiático, enquanto inúmeros casos de pessoas presas injustamente ou vítimas de violência permanecem invisíveis. A lógica, segundo os críticos, privilegia o escândalo e a notoriedade em detrimento da justiça.

Próximos passos do processo

O novo processo contra Nego Di segue em tramitação na Justiça. As 64 alegadas vítimas buscam reparação pelos prejuízos financeiros sofridos. O caso deve reacender as discussões no Poder Judiciário e no Congresso Nacional sobre os limites entre a liberdade de expressão e trabalho após o cumprimento de pena e a responsabilidade de influenciadores digitais, além do papel da mídia e das plataformas digitais na construção dessas narrativas.

Enquanto isso, a plateia que consumiu o show "Diário de um ex-detento" simboliza, para analistas, um segmento do público disposto a pagar por histórias onde o crime é parte integrante do espetáculo, levantando questões profundas sobre os valores culturais contemporâneos.

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