Justiça dos EUA anula condenação de George Stinney Jr., executado aos 14 anos em 1944

Tribunal da Carolina do Sul reconheceu falhas graves no julgamento que condenou o adolescente negro à cadeira elétrica


George Stinney Jr., um adolescente negro de 14 anos executado na cadeira elétrica em 1944 na Carolina do Sul, teve sua condenação anulada 70 anos depois por um tribunal estadual. A decisão histórica, proferida em 2014 pela juíza Carmen Mullen, reconheceu que o julgamento foi "fundamentalmente injusto e inconstitucional".

Stinney foi acusado de assassinar duas meninas brancas - Betty June Binnicker, 11, e Mary Emma Thames, 8 - em Alcolu, cidade marcada pela segregação racial. O processo durou menos de um dia, com júri totalmente branco, e a execução ocorreu apenas 83 dias após o crime.

Julgamento relâmpago sem defesa adequada

O adolescente foi interrogado sem advogado ou familiares presentes. A única "prova" era uma confissão não documentada, possivelmente coagida. Seu defensor público não apresentou testemunhas ou contestou as acusações. O júri deliberou por apenas 10 minutos antes da sentença de morte.

"George era uma criança pequena, de 1,50m e 43kg. Seu corpo não alcançava os eletrodos - usaram uma Bíblia como assento", relatou a irmã Katherine Stinney-Robinson à CNN. A família foi obrigada a fugir da cidade após a execução.

Revisão histórica do caso

Em 2014, advogados liderados por Steve McKenzie e Matt Burgess apresentaram novas evidências, incluindo:

- Alibi familiar: testemunhas afirmaram que George estava cuidando do gado no horário do crime

- Inexistência de provas físicas ligando-o às mortes

- Violações processuais graves, incluindo ausência de recursos adequados

A juíza Mullen destacou que "um caso desta gravidade não poderia ter sido conduzido em um único dia". O caso se tornou símbolo do racismo no sistema judiciário americano.

Legado e reparação tardia

A absolvição póstuma não devolveu a vida a Stinney, mas transformou seu caso em referência contra a pena de morte e injustiças raciais. "O mundo agora sabe que meu irmão era inocente", declarou Amie Ruffner, irmã de George, após a decisão.

O caso continua sendo estudado em faculdades de Direito como exemplo dos perigos de sentenças irreversíveis. Em 2005, a Suprema Corte americana proibiu a execução de menores de 18 anos, em decisão influenciada por casos como o de Stinney.