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Projeto da Dosimetria da Pena busca corrigir excessos em crimes contra Estado Democrático

Projeto da Dosimetria da Pena busca corrigir excessos em crimes contra Estado Democrático

Juristas defendem ajuste legislativo para restaurar proporcionalidade penal e evitar punições superiores a crimes como homicídio.

Redação
Redação

11 de dezembro de 2025 ·

Um movimento liderado por juristas e parlamentares defende a revisão das penas aplicadas aos crimes contra o Estado Democrático de Direito, introduzidos pela Lei nº 14.197/2021. O chamado "Projeto da Dosimetria da Pena" não questiona a responsabilização, mas busca corrigir o que especialistas chamam de "inflação punitiva" e "superposição indevida" de tipos penais, que resultariam em condenações desproporcionais.

O ponto central do debate é a aplicação cumulativa dos crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito (art. 359-L) e de golpe de Estado (art. 359-M). Segundo os defensores do projeto, essa prática tem gerado penas que, em alguns casos, se equiparam ou superam as previstas para crimes contra a vida, como homicídio e latrocínio, criando uma inversão na hierarquia dos bens jurídicos protegidos.

Princípio da Proporcionalidade em Foco

O jurista e líder religioso Silas Malafaia, articulista do iG e presidente da Comissão Especial de Juristas Evangélicos e Cristãos da OAB, argumenta que a defesa da dosimetria é um "imperativo constitucional". "A punição é necessária. O excesso é que corrói o Estado de Direito", escreveu em artigo. Para ele, o projeto visa "restaurar a proporcionalidade, a racionalidade e a legitimidade do sistema penal", sem abolir tipos penais ou negar a responsabilização.

O princípio da proporcionalidade, reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal (STF), opera em três planos: adequação (a pena deve servir ao objetivo), necessidade (não pode haver meio menos gravoso) e proporcionalidade em sentido estrito (o benefício deve superar o sacrifício). Os críticos da aplicação atual afirmam que esse equilíbrio se perde quando crimes políticos recebem tratamento mais severo do que crimes contra a vida e a dignidade humana.

Risco de "Bis in Idem" e Inflação Punitiva

Um dos argumentos técnicos centrais é a violação ao princípio do ne bis in idem material, que veda punir duas vezes pelo mesmo fato. Juristas sustentam que os crimes de golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático muitas vezes descrevem etapas de uma mesma empreitada, protegendo o mesmo bem jurídico. A punição cumulativa, portanto, representaria uma "fragmentação artificial".

O projeto propõe a positivação legislativa de critérios dogmáticos clássicos, como consunção e subsidiariedade, para impedir que a multiplicação de tipos seja usada como "instrumento artificial de elevação da pena". A comparação com outras penas do Código Penal é usada para ilustrar o desequilíbrio: o homicídio simples tem pena de 6 a 20 anos, enquanto a acumulação nos crimes contra o Estado Democrático pode facilmente ultrapassar essa faixa.

Dosimetria não é Anistia, Defendem Especialistas

Os proponentes do projeto são enfáticos em diferenciar a dosimetria da anistia. "Anistia extingue punibilidade, apaga o crime e possui caráter político excepcional. Dosimetria, ao contrário, é técnica penal de medição da pena", explica o texto de referência. O ajuste não absolveria réus, extinguiria tipos penais ou eliminaria antecedentes criminais, mas recalibraria faixas de pena e corrigiria mecanismos de cumulação considerados indevidos.

O debate também envolve a competência do Poder Legislativo. Defensores argumentam que o Parlamento tem atribuição constitucional para revisar políticas criminais desproporcionais e que a aplicação retroativa da lei penal mais benéfica é garantia expressa na Constituição Federal (art. 5º, XL).

Contexto e Próximos Passos

A discussão ganha força em um cenário de julgamentos de pessoas envolvidas nos atos de 8 de janeiro de 2023. O projeto se apresenta como uma correção de rota para evitar que, na visão de seus idealizadores, o Direito Penal seja usado com "lógica vingativa" e se transforme em "instrumento de guerra permanente".

O próximo passo é a formalização de uma proposta legislativa concreta, que deverá tramitar no Congresso Nacional. Enquanto isso, o debate entre juristas, parlamentares e a sociedade civil sobre os limites da punição em um Estado Democrático de Direito deve se intensificar, colocando em xeque o equilíbrio entre a necessária responsabilização e os excessos que podem minar a legitimidade do próprio sistema.

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