Violência contra mulheres no RJ tem aumento de 5.000% em casos virtuais em 10 anos
Dossiê histórico revela que mais de 154 mil mulheres foram vítimas de agressão no estado em 2024, uma média de 18 por hora.
Os casos de perseguição e assédio virtual contra mulheres no Rio de Janeiro registraram um aumento superior a 5.000% em uma década, saltando de 55 ocorrências em 2014 para 2.834 em 2024. Os dados alarmantes foram apresentados nesta quinta-feira (20) durante a cerimônia de lançamento do Dossiê Mulher 2025, na Sala Cecília Meireles, na Lapa, região central da capital fluminense. A edição marca os 20 anos do levantamento anual produzido pelo Instituto de Segurança Pública (ISP).
O estudo, considerado pioneiro no país, consolida os números de violência contra mulheres no estado e serve como ferramenta estratégica para a formulação de políticas públicas. Além do crescimento explosivo da violência online, o relatório escancara a gravidade da violência doméstica: mais de 154 mil mulheres foram vítimas de algum tipo de agressão no ano passado, o que equivale a uma média de 18 vítimas por hora.
Violência doméstica e psicológica lideram estatísticas
Quase metade das denúncias de violência doméstica (49,4%) apontam companheiros ou ex-companheiros como autores das agressões. Em 50,6% dos casos, o crime ocorreu dentro da própria residência da vítima, reforçando que o ambiente doméstico segue sendo o principal cenário de violência. A violência psicológica lidera os registros entre os tipos de agressão, com 56.206 casos em 2024 – uma média de 153 vítimas por dia, afetando mais de um terço (36,5%) das mulheres agredidas.
A diretora-presidente do ISP, Marcela Ortiz, destacou a relevância histórica do estudo durante o evento. “Completar 20 anos de Dossiê Mulher é reafirmar o compromisso do governo estadual com a proteção e o acolhimento das mulheres fluminenses. O Dossiê não é apenas um relatório, ele é uma ferramenta estratégica que orienta ações e salva vidas”, afirmou Ortiz.
Feminicídios e perfil dos agressores
Em 2024, 107 mulheres foram vítimas de feminicídio no estado do Rio de Janeiro. Quase dois terços desses crimes (63,6%) ocorreram dentro de casa. Entre as vítimas, 71 eram mães, 33 tinham filhos menores de idade e 13 foram assassinadas na presença dos próprios filhos. A maioria das vítimas (59,8%) tinha entre 30 e 59 anos, e 71% eram mulheres negras.
O levantamento inédito sobre o histórico criminal dos autores revelou que quase 60% dos agressores possuíam antecedentes, tendo cometido, em média, quatro crimes antes do feminicídio. Em 22,9% dos casos, os autores estavam sob efeito de álcool ou drogas no momento do crime.
Sinais positivos no enfrentamento
Apesar do cenário preocupante, o Dossiê Mulher 2025 também aponta avanços. Em casos de estupro e estupro de vulnerável, 67,7% das vítimas registraram a denúncia em até um mês após o crime, indicando maior confiança nos mecanismos de proteção, como as Delegacias de Atendimento à Mulher (DEAM) e a Patrulha Maria da Penha.
Outro dado considerado positivo envolve o acompanhamento de autores de violência: entre 269 homens monitorados em grupos reflexivos, apenas 2,3% voltaram ao sistema prisional por novos episódios de violência doméstica. A secretária de Estado da Mulher, Heloisa Aguiar, reforçou a importância do trabalho contínuo. “Enfrentar a violência contra a mulher exige ação permanente, baseada em evidências e com políticas articuladas. Investir em prevenção, educação e redes de cuidado funciona”, destacou.
O aumento expressivo dos casos de violência virtual é atribuído tanto à ampliação do uso das redes sociais quanto ao maior nível de conscientização das vítimas sobre a importância da denúncia. Produzido há duas décadas, o Dossiê Mulher tornou o Rio de Janeiro pioneiro no país na produção de um estudo técnico contínuo e sistematizado voltado exclusivamente à violência contra mulheres.
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