Bolsonarismo enfrenta crise de liderança e derrotas estratégicas a menos de um ano da eleição
Com o ex-presidente preso, disputas internas e revés no STF fragilizam o campo da extrema-direita na corrida eleitoral.
A menos de um ano das eleições, o campo bolsonarista enfrenta uma grave crise de liderança e acumula derrotas estratégicas. A prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro deixou o movimento acéfalo, gerando disputas internas pelo comando e por candidaturas-chave, enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) impõe um revés aos planos da extrema-direita para o próximo pleito.
No vácuo de poder, intensificam-se as brigas pela indicação do Partido Liberal (PL) à Presidência da República e por postos como uma vaga no Senado por Santa Catarina. Paralelamente, uma tentativa de greve de caminhoneiros simpáticos ao ex-presidente, articulada para pressionar o STF, fracassou durante a semana.
Disputa familiar e desautorização de aliança
Michelle Bolsonaro, ex-primeira-dama, desautorizou publicamente uma aliança do PL com o ex-governador do Ceará Ciro Gomes, um dos mais agressivos adversários de Jair Bolsonaro. Os filhos do ex-presidente, Eduardo e Carlos Bolsonaro, foram às redes sociais criticar o que chamaram de "autoritarismo" da madrasta. No entanto, após uma visita ao pai na Polícia Federal, tiveram que se retratar e pedir desculpas. O acordo com Ciro Gomes foi desfeito.
A briga pela indicação do PL ao Senado em Santa Catarina permanece. De um lado, está o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro. Do outro, a deputada federal Carol de Toni, considerada favorita de Michelle Bolsonaro.
Bolsonaro tenta influenciar de dentro da prisão
Longe dos holofotes, Jair Bolsonaro tenta, como pode, influenciar os rumos do partido de dentro da carceragem da Polícia Federal em Brasília. Analistas políticos, no entanto, avaliam que a ausência física do ex-presidente no palanque eleitoral representa uma perda brutal de capacidade de mobilização para o movimento.
A tentativa de greve dos caminhoneiros, vista como um teste de força do bolsonarismo, não obteve a adesão esperada e foi considerada um fiasco pelos próprios organizadores.
Revés no STF quebra plano eleitoral da extrema-direita
Em uma decisão com impacto direto no cenário eleitoral, o ministro Gilmar Mendes, do STF, determinou que apenas o procurador-geral da República pode pedir impeachment de ministros da Corte. A medida antecipa-se a um possível revés após as eleições e quebra um plano central da extrema-direita: eleger o maior número possível de senadores para, com o apoio da maioria do Senado, poder processar e eventualmente afastar ministros do Supremo.
Atualmente, um ministro do STF pode deixar o cargo se a maioria absoluta do Senado Federal assim decidir. A nova interpretação de Gilmar Mendes restringe drasticamente essa possibilidade.
Cenário indefinido e vantagem para Lula
Com o início oficial da campanha eleitoral previsto para daqui a oito meses, o campo bolsonarista ainda não tem um candidato ou candidata definidos. Enquanto Michelle Bolsonaro sinaliza suas pretensões, o presidente nacional do PL, Gilberto Kassab, já orientou o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, a atenuar sua identificação com o bolsonarismo para atrair o eleitorado de centro.
Outros governadores aliados também são cotados para a disputa presidencial, indicando uma fragmentação de forças. Especialistas apontam que as disputas internas e a falta de uma liderança unificada beneficiam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que busca capitalizar politicamente com projetos de alto apelo popular aprovados pelo Congresso, como o fim da escala de trabalho "6 por 1" e a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.
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