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Evento Carrington de 1859 serve de alerta para riscos de tempestades solares atuais

Evento Carrington de 1859 serve de alerta para riscos de tempestades solares atuais

Fenômeno que parou telégrafos no século XIX causaria colapso em satélites, redes elétricas e GPS se ocorresse hoje.

Redação
Redação

13 de dezembro de 2025 ·

O maior registro de tempestade solar da história, conhecido como Evento Carrington, ocorreu em 1859 e voltou ao centro das discussões científicas. O fenômeno é analisado diante do aumento da atividade solar e da dependência global de sistemas tecnológicos sensíveis ao clima espacial, conforme explica o pesquisador Luis Eduardo Antunes Vieira, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).

Tempestades solares são um conjunto de fenômenos originados na atmosfera do Sol que podem interagir com a Terra e seus sistemas. "Esses eventos estão ligados à evolução do campo magnético solar e seguem um ciclo aproximado de 11 anos, conhecido como ciclo solar", detalha Vieira, pesquisador titular da Divisão de Heliofísica do INPE.

O episódio histórico e seus efeitos

O evento recebeu o nome do astrônomo britânico Richard Carrington, que observou uma intensa explosão solar em 1º de setembro de 1859. Horas depois, uma poderosa ejeção de massa coronal atingiu a Terra, desencadeando uma tempestade geomagnética sem precedentes.

Na época, os sistemas de telégrafo em todo o mundo entraram em colapso, operadores receberam choques elétricos e auroras boreais foram avistadas em regiões tropicais, como o Caribe e partes da América do Sul. A sociedade da época, no entanto, não dependia de satélites, internet ou redes elétricas complexas, o que reduziu drasticamente os danos potenciais.

Impactos potenciais na era moderna

Caso um evento da mesma magnitude ocorresse nos dias atuais, estudos da NASA, da NOAA e da Agência Espacial Europeia (ESA) indicam riscos elevados para sistemas críticos. A lista inclui satélites de comunicação e GPS, redes de distribuição de energia elétrica, sistemas de aviação e transações financeiras globais.

Vieira destaca que até eventos solares moderados já causam prejuízos relevantes. Em fevereiro de 2022, uma tempestade solar levou à perda de 38 dos 49 satélites Starlink recém-lançados pela SpaceX, devido ao aumento do arrasto atmosférico. Em novembro do mesmo ano, a Airbus emitiu um alerta sobre a vulnerabilidade de sistemas de controle de voo da família A320 a partículas energéticas, resultando em inspeções em massa e atualizações de software com alto custo para companhias aéreas.

Processos de um evento solar extremo

De acordo com o pesquisador do INPE, eventos solares extremos envolvem três processos principais: uma explosão solar (liberação abrupta de radiação), uma ejeção de massa coronal (nuvem de plasma magnetizado) e um fluxo de partículas energéticas. Para comparação, o vento solar típico tem velocidade média entre 300 e 400 km/s, enquanto ejeções extremas podem ultrapassar 1.000 km/s, chegando em casos raros a 2.000 km/s.

Os efeitos de uma tempestade solar não chegam todos ao mesmo tempo. A radiação eletromagnética leva cerca de 8 minutos, as partículas energéticas de minutos a horas, e a ejeção de massa coronal, que carrega o campo magnético, leva entre um a três dias para percorrer a distância Sol-Terra.

Monitoramento e preparação no Brasil e no mundo

A previsão precisa desses eventos ainda é um desafio científico, mas há um esforço internacional contínuo para monitorar o ambiente Sol-Terra. Organizações como a NOAA, a NASA e a ESA, além de observatórios solares espalhados pelo mundo, acompanham a atividade em tempo real.

No Brasil, o INPE é a principal referência nacional em estudos de clima espacial, atuando no monitoramento, emissão de alertas e desenvolvimento de protocolos de mitigação. O país também investe em projetos estratégicos, como o telescópio solar Galileo Solar Space Telescope (GSST) e a participação no satélite CBERS-5, que ampliam a capacidade de observação e resposta.

O ciclo solar atual e a necessidade de preparação

O Sol caminha para uma fase de alta atividade dentro do seu ciclo atual de 11 anos. Vieira alerta, porém, que o Evento Carrington histórico não ocorreu exatamente no pico do ciclo, e sim em sua fase descendente, indicando que eventos extremos podem ocorrer a qualquer momento.

O especialista defende que a principal preocupação não deve ser o pânico, mas sim o investimento contínuo em ciência, monitoramento e políticas públicas de mitigação. "A cobrança deve ser por sistemas robustos de previsão e por protocolos capazes de reduzir impactos econômicos e sociais", afirma Vieira. O grande desafio científico está em identificar sinais confiáveis antes da liberação abrupta de energia, processo associado à reconexão magnética nos campos magnéticos solares.

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