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Itens simples viram artigos de luxo após viralizarem nas redes sociais
Economia

Itens simples viram artigos de luxo após viralizarem nas redes sociais

Economista explica que fenômeno é movido pela "economia da atenção" e desejo de pertencimento a grupos.

Redação
Redação

6 de dezembro de 2025 ·

Produtos comuns, como doces populares e utensílios domésticos, estão sendo vendidos por preços exorbitantes após ganharem visibilidade em perfis de influenciadores digitais. O fenômeno, analisado por especialistas, transforma itens acessíveis em objetos de desejo e símbolos de status, com valores que podem ultrapassar R$ 2 mil. A dinâmica é impulsionada pela chamada "economia da atenção" e reflete uma mudança nos padrões de consumo.

Um dos exemplos mais emblemáticos é o doce conhecido como Morango do Amor. Tradicionalmente vendido a preços populares, ganhou versões sofisticadas com embalagens de luxo e personalização. Em São Paulo, uma caixa com apenas oito unidades chegou a ser comercializada por cerca de R$ 2.100.

Mecanismo da economia da atenção

Em entrevista ao Portal iG, o economista Fernando Moulin, CEO & Founder do Polaris Group e especialista em experiência do cliente, explicou o movimento. “A gente vive a era do marketing da atenção. As pessoas têm um tempo limitado, uma oferta infinita de produtos e passam grande parte do dia nas redes sociais, se informando e se relacionando com influenciadores”, afirmou.

Segundo ele, os criadores de conteúdo construíram comunidades capazes de direcionar o consumo. “Esses influenciadores formaram audiências que, de uma forma ou de outra, influenciam o que as pessoas compram”, disse Moulin. Para o economista, é nesse ponto que ocorre a virada: “Aquilo que era comum passa a ser visto como item de luxo, desejável, objeto de atenção daquela audiência.”

Valor é percepção, diz especialista

Fernando Moulin defende que não se trata de uma distorção de valor. “O valor de qualquer produto é percepção. Ele vale aquilo que o consumidor está disposto a pagar”, afirmou. “Se as pessoas pagam mais por algo que custa pouco para ser produzido, o marketing cumpriu o papel dele, que é tangibilizar valor.” Na prática, é o próprio consumidor quem legitima o preço ao aceitar pagar.

O mecanismo, segundo ele, é o mesmo da indústria do luxo tradicional. “Quanto mais exclusivo e mais caro, mais desejável o item se torna”, explicou. “As pessoas querem exclusividade, querem mostrar pertencimento a um grupo.”

Fenômeno se expande para outros setores

A onda não se limita aos alimentos. No mercado de moda, roupas e acessórios comuns se tornam peças “hype” e são revendidos por valores muito acima do original. No segmento de itens antigos, objetos considerados ultrapassados ressurgem como artigos de desejo.

Um caso notável é o dos pratos de vidro Duralex. Por décadas, foram sinônimo de utensílios simples de cozinha. Hoje, impulsionados pela estética retrô e pela onda de nostalgia nas redes, aparecem em lojas especializadas e marketplaces por preços elevados.

Ciclo das tendências e papel da nostalgia

Sobre a durabilidade dessas tendências, Moulin é direto. “Alguns produtos viram clássicos, outros simplesmente desaparecem quando o hype acaba”, afirmou. Ele cita o caso da paleta mexicana, que viveu um período de enorme popularidade e depois praticamente saiu do mercado.

Para o economista, a nostalgia também alimenta esse ciclo. “Hoje existe uma tendência muito forte de buscar referências do passado para lidar com as incertezas do presente e do futuro”, explicou. Nesse contexto, produtos antigos retornam ao mercado com novos significados e preços inflacionados.

O modelo beneficia toda a cadeia. “Todo mundo lucra. O produtor vende mais, o influenciador monetiza a audiência e a plataforma ganha tráfego e publicidade”, destacou Moulin. Antes, uma marca precisaria investir pesado em televisão para alcançar milhões. Hoje, basta estar no perfil certo.

Enquanto influenciadores seguem ditando tendências, cresce o debate sobre até que ponto o consumidor paga pelo produto ou apenas pelo símbolo que ele representa. Entre o desejo de pertencimento e a busca por diferenciação, o simples continua ficando cada vez mais caro.

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