Polícia Federal desmantela fábrica de ghost guns com 31 mil componentes no interior de SP
Operação revela estrutura que produzia fuzis inrastreáveis para facções criminosas em todo o país
A Polícia Federal desmantelou uma fábrica clandestina de ghost guns — armas fantasma — que operava no Distrito Industrial de Santa Bárbara d'Oeste, interior de São Paulo. Durante operação realizada em 21 de agosto de 2025, os agentes apreenderam 31.145 componentes de armas de fogo, incluindo receptores de AR-15, canos, coronhas e dois silenciadores.
A investigação começou com denúncia anônima sobre Janderson Aparecido Ribeiro de Azevedo, 37 anos, e durou dez dias de vigilância. Os policiais federais Roberto C. (26 anos de carreira) e Gabriel S. (2 anos e 10 meses na PF) monitoraram os suspeitos antes da ação final.
Estrutura sofisticada de produção
A fábrica funcionava sob fachada da empresa Kondor Fly e mantinha horários atípicos — fechava em dias úteis aleatórios e operava intensamente durante finais de semana e noites. Janderson e Anderson Custódio Gomes, 33 anos, programador de máquinas CNC, trabalhavam em turnos noturnos das 18h às 4h.
Os componentes eram transportados para um imóvel na rua Ibitinga, 817, em Americana, a 45 km de Campinas, que funcionava como depósito estratégico. As caixas com peças eram transferidas pelo menos três vezes durante o período de monitoramento.
Conexão com facções criminosas
Na abordagem inicial, Janderson e Anderson confessaram que as armas "eram montadas e vendidas para várias facções criminosas do país, sendo a maioria das vendas para a cidade do Rio de Janeiro". Posteriormente, ambos optaram pelo silêncio durante interrogatórios formais.
A perícia encontrou no computador de Clayton Combe Ribeiro, projetista mecânico, um arquivo nomeado "pcc-9-upper-1.snapshot.1.zip" contendo projeto 3D de receptor superior de fuzil AR-15. O arquivo foi baixado de servidor da Amazon Web Services em 9 de janeiro de 2025.
Capacidade industrial e lucratividade
Segundo estimativas da PF, a fábrica tinha capacidade para produzir aproximadamente 3.500 fuzis por ano (291 por mês). Considerando que cada AR-15 no mercado clandestino vale entre R$ 50 mil e R$ 70 mil, a operação poderia gerar lucros mensais entre R$ 1 milhão e R$ 6 milhões.
Os custos fixos mensais eram de R$ 82.500, incluindo R$ 69 mil em arrendamento de máquinas, R$ 6.500 de aluguel e R$ 7 mil em salários informais para os operadores.
Prisões e andamento processual
Janderson e Anderson foram presos em flagrante e tiveram a prisão convertida em preventiva pelo juiz da 1ª Vara Criminal de Americana, com fundamento na "garantia da ordem pública". Wendel dos Santos Bastos, proprietário legal das máquinas, e Gabriel Carvalho Belchior, sócio da Kondor Fly, foram indiciados posteriormente.
Os acusados respondem por organização criminosa, fabricação clandestina de armas de fogo, crime continuado e posse ilegal de armas. A defesa de Janderson alega que não há evidência de que as peças foram comercializadas e que ele é primário sem antecedentes.
A investigação continua para identificar toda a rede de distribuição, incluindo a localização de Mikhail Carvalho ("Milque"), citado como coordenador operacional, e Vitória, suposta gestora financeira, que permanecem sem paradeiro conhecido.
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