Transição energética no Brasil exige mudança de hábitos e políticas
Especialista alerta que país precisa repensar consumo e investir em fontes limpas para abandonar fósseis
O Brasil possui condições para liderar a transição energética global, mas precisa superar dependência de combustíveis fósseis através de mudanças comportamentais e políticas públicas. A avaliação é de John Fernando de Farias Wurdig, engenheiro ambiental do Instituto Arayara, em entrevista durante a COP30.
Segundo o especialista, o país tem um dos maiores potenciais renováveis do mundo, com capacidade para matriz baseada em energia solar, eólica e hidrelétrica. O transporte seria majoritariamente elétrico, e setores industriais dependeriam de eletrificação ou hidrogênio verde.
Desafio político, não tecnológico
Wurdig afirma que o principal entrave não está na tecnologia, mas nas escolhas políticas e econômicas. "Nós já sabemos como fazer essa transição. O problema é que continuamos investindo pesado em combustíveis fósseis", declarou o especialista.
O engenheiro ambiental defende redirecionamento de subsídios e priorização de eficiência energética. "Sem redirecionar subsídios e estratégias, vamos atrasar algo que já poderia estar avançando rapidamente", completou.
Dependência atual dos fósseis
Wurdig destacou que o modelo econômico brasileiro ainda é profundamente dependente de combustíveis fósseis. "Nosso modelo econômico, urbano e energético ainda é profundamente dependente dos combustíveis fósseis no carro que eu utilizo, nos caminhões a diesel, nos aviões, no transporte marítimo e na indústria", explicou.
O primeiro passo, segundo ele, seria modernizar todo o sistema para maior eficiência, seguindo exemplo da evolução ocorrida nos eletrodomésticos domésticos.
Armazenamento e transição justa
O especialista apontou a necessidade de investimento em sistemas de armazenamento. "O país precisa aprender a guardar energia por meio de baterias. O Brasil ainda não tem um leilão específico para isso", afirmou Wurdig.
Outro desafio mencionado foi garantir transição justa para trabalhadores da indústria fóssil. "Não é só desligar a usina. O problema é que o Brasil e muitos países estão postergando esse planejamento, numa situação de urgência climática", alertou.
Urgência climática
Wurdig lembrou que o cenário já é crítico, com possibilidade de ultrapassagem do limite de 1,5°C de aquecimento em poucos anos. Eventos extremos como a catástrofe climática no Rio Grande do Sul em 2024 tendem a se tornar mais frequentes.
"São vidas em jogo, vidas destruídas, além de impactos econômicos. Não podemos trabalhar com a ideia de que a indústria fóssil vai financiar a transição energética", enfatizou o especialista.
Mudanças comportamentais necessárias
Para eliminar combustíveis fósseis, Wurdig defende repensar padrões de consumo. "Pensar num mundo sem petróleo, gás e carvão é um grande desafio porque dependemos dessas fontes. Para eliminá-las, precisamos repensar nosso modo de viver e nosso consumo", afirmou.
O Brasil adotou modelo similar ao norte-americano, com cada brasileiro produzindo cerca de 1,5 kg de lixo por dia. Resíduos sólidos estão entre as três maiores fontes de gases de efeito estufa.
Oportunidade com prazo
Apesar dos desafios, especialistas afirmam que transição completa é inevitável e vantajosa. Países que se adiantarem tendem a atrair investimentos, reduzir custos energéticos e melhorar qualidade de vida.
Wurdig é enfático sobre o tempo: "Se o Brasil quiser liderar, precisa agir agora. Não podemos esperar que o mundo abandone os fósseis para depois correr atrás. Nosso potencial é imenso, mas a oportunidade também tem prazo".
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