Coronel Paganotto compara organizações criminosas brasileiras a colonizadores exploradores
Secretário de Segurança afirma que impunidade permite atuação escancarada de facções em diversos setores da economia.
O coronel da reserva da Polícia Militar de São Paulo e atual secretário de Segurança Pública de Monte Mor (SP), Marcelo Paganotto, publicou um artigo no portal iG no qual traça um paralelo entre a colonização do Brasil e a atuação das organizações criminosas atuais. Para ele, a "impunidade reinante" permite que facções atuem de forma aberta em setores como combustíveis, bebidas, cargas e transportes, sem a preocupação de disfarçar a origem ilícita dos negócios.
Doutor em Ciências de Segurança Pública, Paganotto tem mais de 30 anos de experiência na área, incluindo passagens pela ROTA (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar) e por uma missão de infiltração no sistema prisional.
Mito da colonização e "maçãs podres"
Em sua análise, Paganotto começa refutando a ideia de que o Brasil foi colonizado apenas por criminosos degredados de Portugal, lembrando que historiadores já comprovaram a presença de religiosos, militares, fidalgos e comerciantes. No entanto, ele utiliza o ditado "uma única maçã podre pode estragar toda a cesta" para ilustrar como, no "caldeirão de valores" que formou o país, os exploradores se uniram.
"Nos travesseiros dos fidalgos e comerciantes havia sonhos de fortuna e riqueza às custas de extrema exploração e suor dos menos favorecidos", escreveu o secretário.
Organizações criminosas "evoluídas" e a falácia do combate óbvio
O artigo critica a superficialidade do debate público sobre segurança, que se resume a "trend topics" como a defesa de que "criminosos precisam cumprir penas justas no regime fechado". Paganotto relembra uma palestra com um magistrado italiano sobre o combate à máfia, onde se destacava a estratégia das organizações de infiltrar negócios lícitos para lavar dinheiro e obter prestígio social.
Para o coronel, porém, as facções brasileiras modernas operam em um patamar diferente: "No Brasil moderno a máfia italiana seria uma organização imatura e sem a maldade evoluída local". Ele argumenta que, devido à impunidade, os grupos nacionais não precisam se esforçar para parecerem legítimos.
Atuação escancarada em múltiplos setores
Paganotto lista setores da economia onde as organizações criminosas já estariam instaladas: "combustíveis, bebidas, cigarros, falsificação de produtos, cargas, drogas, transportes e outros serviços públicos". A tese central é que a falta de consequências permite que ajam abertamente, buscando lucro inclusive em esquemas que deveriam ser "completamente isentos de desconfiança", prejudicando "milhares de trabalhadores honestos".
Conclusão: "As Naus continuam chegando"
O secretário encerra o artigo com uma metáfora poderosa, afirmando que o ciclo de exploração permanece. "Tenho certeza de que as Naus continuam desembarcando com degredados, comerciantes e fidalgos imbuídos do sentimento de explorar de forma brutal todas as possibilidades da nossa terra prometida. Basta!!!", concluiu Paganotto, que assumiu a secretaria em Monte Mor em 2025.
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