O 14º Dalai Lama, Tenzin Gyatso, anunciou nesta quarta-feira (2) que existirá um sucessor após sua morte, mantendo a tradição budista tibetana de reencarnação. O líder espiritual, que completa 90 anos no próximo domingo (6), detalhou o complexo processo de identificação do próximo Dalai Lama, que envolve sinais espirituais, testes com objetos pessoais e educação monástica rigorosa.
Processo de seleção milenar
A busca pelo novo Dalai Lama será liderada por monges da escola Gelug do budismo tibetano. Eles observarão sinais como sonhos de lamas renomados, alterações no corpo do falecido Dalai Lama e visões no lago sagrado Lhamo Latso. Quando uma criança entre 2 e 5 anos for identificada como potencial reencarnação, será submetida a testes com objetos que pertenceram ao antecessor.
"O reconhecimento ocorre quando a criança demonstra conhecimento espontâneo sobre vidas passadas e identifica corretamente objetos entre itens semelhantes", explicou o Dalai Lama em seu livro "Voz para os Sem Voz", lançado em março de 2025. O processo pode levar anos até a confirmação final.
Tensões políticas na sucessão
O anúncio reacendeu tensões com a China, que afirma ter direito de aprovar o sucessor com base em um ritual de seleção de 1793 da dinastia Qing. O parlamento tibetano no exílio, sediado em Dharamshala (Índia), desenvolve um sistema alternativo para garantir a continuidade do governo exilado.
O Dalai Lama, no exílio desde 1959, foi enfático: "Meu sucessor nascerá em território livre, fora do controle chinês". Ele pediu aos tibetanos que rejeitem "candidatos escolhidos para fins políticos", em referência à possibilidade de a China indicar seu próprio sucessor.
Educação do futuro líder
Após o reconhecimento, o novo Dalai Lama passará por intensa formação monástica para assumir o papel de guia espiritual de milhões de budistas. O atual líder sugeriu em 2011 a possibilidade de treinar um sucessor ainda em vida, mas não confirmou se adotará esse modelo.
O Ministério das Relações Exteriores da China reafirmou que qualquer reencarnação deve obedecer às leis chinesas. Enquanto isso, o governo tibetano no exílio prepara documentos para preservar a autonomia do processo de seleção.
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