Uma pesquisa encomendada pela GQ Brasil ao Instituto Ideia em maio de 2022 revelou que 47% dos homens se consideram bonitos, enquanto apenas 4% das mulheres se descrevem como "belas" em estudo global da Dove. Os dados mostram uma disparidade de gênero na percepção de beleza que especialistas atribuem a padrões culturais distintos.
Abismo na autoimagem
O levantamento com homens brasileiros mostrou que 44% se avaliaram como "na média" e apenas 3% se declararam feios. Em contraste, pesquisa histórica da Dove com 32 mil mulheres em 10 países encontrou apenas 2% que se descreviam como belas em 2004 - número que subiu para 4% em atualizações posteriores.
Nancy Etcoff, neuropsicóloga de Harvard, explica que a cultura transformou sinais biológicos de saúde em padrões rígidos: "O que era indicativo de fertilidade virou moeda de poder social". Seu estudo mostra que 78% das mulheres relatam ansiedade corporal causada por padrões irreais.
Raízes culturais
A antropóloga Mirian Goldenberg aponta um "apartheid moral" contra corpos femininos: "Homens envelhecem como medalhas, mulheres como dívidas". Etnografia em clínicas estéticas do Rio revelou que esses espaços funcionam como reguladores sociais de gênero.
Dados do UNDP mostram correlação entre igualdade de gênero e satisfação corporal: países com maior equidade têm mulheres mais confortáveis com sua aparência. No Brasil, jovens demonstram necessidade constante de monitorar e retocar a imagem.
Consequências sociais
Especialistas alertam que essa disparidade reflete estruturas de poder. Enquanto homens são socializados para valorizar feitos, mulheres aprendem a medir valor no espelho. O resultado é um "7x1 emocional", com impacto direto na saúde mental feminina.
Relatório do Unicef aponta que distúrbios de imagem estão entre as principais causas de ansiedade em adolescentes. A neuropsicóloga Etcoff adverte: "Presença não se edita, se sente - e viver é a forma mais radical de beleza".
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