Estudo revela que 60% do lixo em comunidades ribeirinhas da Amazônia é queimado ou enterrado
Pesquisa inédita expõe crise sanitária com graves riscos à saúde e ao meio ambiente na região
Comunidades ribeirinhas da Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, no Amazonas, enfrentam grave crise sanitária com 60% de seus resíduos sendo queimados ou enterrados, segundo estudo pioneiro da Universidade de São Paulo (USP). A pesquisa, realizada em parceria com Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e Instituto Mamirauá, analisou o manejo de lixo doméstico na região próxima à confluência dos rios Solimões e Japurá.
A ausência de coleta pública e saneamento básico obriga moradores a desenvolver soluções caseiras para lidar com o aumento no consumo de plásticos e produtos industrializados. Leonardo Capeleto, engenheiro ambiental e pesquisador do MIT, autor-sênior do artigo, afirma que mesmo nas cidades mais desenvolvidas da Amazônia não há destino adequado para resíduos sólidos.
Dados alarmantes sobre destinação inadequada
O levantamento detalhado mostra que 88% dos plásticos, 63% das garrafas plásticas e 58% de fraldas, papel higiênico e absorventes são queimados. Já o enterro atinge 69% dos vidros, 63% das latas e 54% das pilhas. O óleo de cozinha tem destinos variados, com cerca de 30% sendo reaproveitado na produção de sabão ou como alimento para animais.
Leonardo Capeleto detalha o paradoxo amazônico: "Mesmo nas cidades mais desenvolvidas, não há destino apropriado para os resíduos sólidos, que acabam indo para aterros a céu aberto, mais conhecidos como lixões, e não para aterros sanitários devidamente controlados, como prevê a Política Nacional de Resíduos Sólidos de 2010".
Impactos graves à saúde e meio ambiente
A queima de resíduos libera gases tóxicos, como compostos de enxofre, que podem causar problemas respiratórios. O enterro de pilhas e baterias contamina solo e cursos d'água, oferecendo risco de câncer, alterações genéticas e distúrbios neurológicos. O descarte em rios e igarapés prejudica diretamente a pesca, principal fonte de renda local.
O pesquisador defende que não é justo culpar a população pelo descarte inadequado, uma vez que o poder público não garante as soluções necessárias. As mudanças dependem de políticas públicas e orçamento municipal para buscar esses materiais e destiná-los a cidades com controle adequado.
Mudança nos padrões de consumo agrava problema
Além das limitações estruturais, a ampliação do consumo de produtos industrializados aumentou a geração de resíduos plásticos e embalagens sem valor de mercado. Iniciativas pontuais existem, como a venda de latas para centros urbanos, mas plástico e vidro continuam sendo descartados inadequadamente.
O estudo conclui que o desafio ambiental na Amazônia, frequentemente associado ao desmatamento, também começa dentro de casa. Enquanto políticas públicas eficazes não chegam às comunidades, o lixo segue acumulando nas margens dos rios, exigindo ações urgentes e responsáveis.
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