Fuvest 2026 inova com duas opções de redação sobre perdão condicionado ou limitado
Vestibular da USP ofereceu pela primeira vez escolha entre dissertação e carta narrativa; tema exige reflexão crítica sobre relações interpessoais.
O Vestibular da Fuvest 2026, processo seletivo para ingresso na Universidade de São Paulo (USP), apresentou nesta primeira fase uma inédita proposta de redação com duas opções de gênero textual. O tema central foi "O perdão é um ato que pode ser condicionado ou limitado". Os candidatos puderam escolher entre desenvolver uma dissertação-argumentativa ou uma carta narrativa dirigida a uma personagem hipotética que os acusou de uma ação reprovável.
As provas foram aplicadas neste domingo (13) e contaram com seis textos de apoio para fundamentar a argumentação dos vestibulandos. Além da redação, os candidatos responderam a 10 questões discursivas de Português, abordando gramática, literatura da lista obrigatória e interpretação de texto.
Uma mudança no formato histórico
Esta foi a primeira vez, em sua história, que o exame ofereceu mais de uma opção de gênero textual para a redação. Conforme a analista pedagógica Amanda Rodrigues explicou, a mudança se alinha à Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que prevê o trabalho com gêneros variados na educação básica. "É interessante observar que essa mudança da Fuvest se aproxima da BNCC", afirmou Rodrigues.
O edital do vestibular, publicado no fim de 2024, já sinalizava a possibilidade de mais de um tipo de texto. Posteriormente, a banca esclareceu que um seria necessariamente dissertativo e o outro, narrativo. No caso específico, a carta precisaria ser narrativa, conforme o comando da prova.
Análise do tema e possibilidades de abordagem
Para Amanda Rodrigues, o tema escolhido é característico do perfil da Fuvest por exigir uma reflexão crítica sem uma resposta pronta. "Pode haver tanto a defesa de um ponto quanto de outro, ou até mesmo reflexões em situações em que o perdão poderia ser condicionado, ou situações em que caberiam perdão limitado", analisou.
A profissional destacou que o tema permite discussões abstratas e pode ser relacionado a diversos contextos. "Também seria interessante, por exemplo, considerar quais seriam as consequências do ato de perdoar ou da falta de perdão nas relações individuais, também nas relações sociais", completou.
Rodrigues listou possíveis recortes para a argumentação, como casos graves de violência, injustiça social, fenômeno do cancelamento nas redes sociais, conflitos internacionais, questões de guerra e paz, relações familiares e a Lei da Anistia no Brasil. Ela ressaltou, porém, que a chave para uma boa redação estava na leitura atenta dos textos de apoio fornecidos pela banca.
Expectativa de escolha e outras questões da prova
A analista pedagógica avalia que, por ser uma novidade, boa parte dos candidatos pode ter optado pela dissertação-argumentativa, gênero com o qual têm mais familiaridade durante a preparação. "É possível que boa parte dos vestibulandos tenha optado por escrever a dissertação, por ser um gênero com o qual eles costumam ter mais contato", pontuou.
Além do tema central, a prova explorou obras da lista de leituras obrigatórias. Uma das questões discursivas tratou do conceito de artistismo a partir da fotografia “Serra Pelada”, de Sebastião Salgado. A obra "Nebulosas", de Narcisa Amália, também foi tema de uma questão, em comparação com "Cosmos", de Carl Sagan.
Próximos passos do vestibular
Neste ano, a USP oferece 8.147 vagas em seus cursos de graduação. As provas do segundo dia da 2ª fase do processo seletivo serão aplicadas nesta segunda-feira (14), em 36 escolas distribuídas por 22 cidades da Região Metropolitana, litoral, capital e interior do estado de São Paulo.
A Fuvest mantém a tradição de temas que exigem profundidade reflexiva, e a inovação no formato da redação sinaliza uma possível tendência de aproximação com vestibulares como o da Unicamp, conhecido por comandos mais elaborados e situações comunicacionais diversificadas.
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