Governo do Tocantins gasta R$ 430 milhões em shows e eventos em 34 meses
Valor seria suficiente para construir quase 6 mil casas populares, segundo cálculos da Caixa Econômica
O Governo do Tocantins e deputados estaduais destinaram mais de R$ 430 milhões para festas, shows e atividades esportivas ou religiosas entre janeiro de 2023 e outubro de 2025. O montante, que seria suficiente para construir aproximadamente 5,7 mil casas populares, foi identificado através do Sistema de Administração Financeira (Siafi) pela TV Anhanguera.
Somente em 2025, até setembro, foram gastos R$ 171 milhões com eventos. Os repasses via Pix do estado para prefeituras saltaram de R$ 47,5 milhões em 2023 para R$ 87 milhões em 2025. Já os pagamentos diretos do governo cresceram de R$ 22 milhões para R$ 38,4 milhões no mesmo período.
Eventos de alto custo com dinheiro público
Em fevereiro de 2025, a Marcha para Vereadores do Tocantins em Palmas custou R$ 320 mil em shows, conforme o Diário Oficial do Estado. Dias depois, o Carnaval no povoado Campo Alegre, distrito de Paranã com cerca de mil habitantes, teve gasto de R$ 255 mil em três apresentações.
O cantor Evoney Fernandes recebeu cachê de R$ 150 mil no evento. Em nota, o artista afirmou que "os valores pagos correspondem aos praticados no mercado artístico" e que as contratações seguiram "todos os trâmites legais e administrativos".
Emendas parlamentares e institutos
A análise de centenas de notas fiscais revelou que deputados destinam recursos através de institutos contratados. Quatro organizações receberam 118 pagamentos em 2025. O Instituto Saber e Arte (ICSA) obteve mais de R$ 5 milhões, incluindo emendas do deputado Ivory de Lira (PCdoB) para a Festa do Milho em Juarina.
O Instituto Gestão Tocantins, com diretoria exercida por servidora municipal, recebeu R$ 2,4 milhões. A deputada Cláudia Lelis (PV) destinou R$ 350 mil através desta entidade para festejo em Pindorama. A legislação veda essa prática por configurar conflito de interesses.
Especialistas criticam prioridades
Para Édi Benini, especialista em administração pública da UFT, "as emendas parlamentares têm criado uma disfunção da peça técnica do orçamento". Luciana Rodrigues, especialista em relações governamentais, defende que "é preciso melhorar a qualidade dos gastos".
O levantamento mostrou que, no período analisado, o Governo do Estado não entregou casas populares com recursos próprios. Com os R$ 430 milhões gastos em eventos, seria possível construir cerca de 5,7 mil moradias ou vários hospitais, considerando custo médio entre R$ 40 e R$ 100 milhões cada.
Posicionamentos e justificativas
O governador afastado Wanderlei Barbosa não se manifestou. Deputados defenderam as emendas. Ivory de Lira afirmou que atenderam "solicitações das comunidades locais". Léo Barbosa, filho do governador, destacou que investimentos em eventos "ajudam a gerar renda". Cláudia Lelis ressaltou que suas emendas seguem "princípios constitucionais da legalidade".
Os institutos citados emitiram notas afirmando regularidade e transparência nas operações. O ICSA declarou que recursos foram executados "dentro da legalidade", enquanto o Instituto Gestão Tocantins afirmou estar "regular e adimplente junto aos órgãos de controle".
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