A astrobióloga brasileira Rebeca Gonçalves realizou com sucesso o primeiro cultivo de tomates, ervilhas e cenouras em solo que simula as condições de Marte, utilizando uma técnica de policultura inspirada nos povos maias. O experimento, conduzido durante seu mestrado na Alemanha, utilizou regolito com 97% de similaridade ao solo marciano.
Técnica ancestral no espaço
A pesquisadora aplicou o princípio da policultura - método que combina espécies vegetais com características complementares - para otimizar recursos em ambientes extremos. "Você basicamente planta espécies que se beneficiam mutuamente para crescerem mais com menos nutrientes e água", explicou Gonçalves em entrevista ao Portal iG.
Os resultados mostraram que os tomates cultivados junto com cenouras e ervilhas (que fixam nitrogênio no solo) desenvolveram-se melhor que os plantados isoladamente. Contudo, todas as plantas foram menores e menos nutritivas que as cultivadas em solo terrestre comum.
Trajetória acadêmica singular
Rebeca descobriu a astrobiologia aos 28 anos, após crise existencial durante sua formação em biologia. "Nunca tinha ouvido falar [da área] até pesquisar como unir biologia e espaço", revelou. Seu mestrado na Holanda foi conquistado após iniciativa própria: "Muitas vezes um e-mail que você manda faz as coisas acontecerem".
Com passagens pela Agência Espacial Europeia (ESA) e universidades no Reino Unido e Holanda, a cientista integra a Rede Space Farming Brasil e co-apresenta o podcast "Ciência Sem Fim".
Aplicações terrestres
A técnica desenvolvida para Marte pode beneficiar regiões com solos pobres na Terra. Gonçalves criticou o foco excessivo no turismo espacial: "Isso é 0,01% do que acontece no setor espacial", destacando pesquisas com medicamentos contra Alzheimer e câncer desenvolvidos no espaço.
"Toda pesquisa espacial deve ter objetivo de trazer benefícios para a Terra. Isso está no coração de todo cientista espacial", afirmou a pesquisadora, enfatizando o potencial de transferência tecnológica entre os ambientes.
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