Humberto Junqueira, cartunista criador do Eixinho, está reinventando sua arte após perder 95% da visão por retinose pigmentar. Seu personagem - um passarinho que observava Brasília do alto do Congresso - foi publicado diariamente no Correio Braziliense entre 1980 e 1990, totalizando 3,5 mil tiras que retratavam a capital com humor e poesia.
O retorno do Eixinho em 2024, através de um perfil no Instagram, surpreendeu até seu criador. "Muita gente ainda se lembrava dele", comemora Junqueira, que precisou da ajuda do filho para digitalizar as tiras antigas. A nostalgia dos leitores reacendeu seu desejo de criar novas histórias, mas a condição visual impôs desafios.
Tecnologia como aliada
Sem poder desenhar, Humberto desenvolveu um método alternativo: vetorização do personagem e colaboração com colegas. "Pensei: e se eu desgrudasse o Eixinho do papel?", explica. Agora, um projeto experimental com IA promete devolver sua autonomia criativa - a ferramenta interpretaria suas descrições detalhadas para gerar as tirinhas, mantendo seu estilo original.
O processo preserva a autoria: "A IA será minha mão, nunca minha cabeça", enfatiza o cartunista. Pesquisadores estão desenvolvendo um sistema alimentado com os vetores do personagem e o traço característico de Humberto, com resultados promissores nos primeiros testes.
Legado e reconhecimento
O Eixinho foi pioneiro como personagem de quadrinhos fora do eixo Rio-São Paulo e conquistou admiradores ilustres como Ziraldo, Luis Fernando Veríssimo e Jaguar. Humberto relembra com humor quando Ziraldo o corrigiu sobre materiais de desenho via telegrama: "Me liga. Pare imediatamente de usar aquela caneta".
Após uma década de sucesso, o personagem foi arquivado quando Humberto priorizou sua carreira em publicidade, que lhe rendeu prêmios internacionais. A doença ocular progrediu silenciosamente durante esse período, até o recente reencontro com sua criação mais querida.
Novos voos
O retorno não foi planejado, mas abriu caminhos inesperados. "Meu objetivo é mostrar esse personagem para uma nova geração", diz Humberto, deixando claro que agora "o Eixinho é quem vai decidir para onde quer ir". O projeto combina memória afetiva, superação e inovação tecnológica para manter viva uma das mais originais representações de Brasília em quadrinhos.
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