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Pesquisadores confirmam técnica romana de concreto autocurativo em Pompeia

Pesquisadores confirmam técnica romana de concreto autocurativo em Pompeia

Análise de canteiro de obras intacto revela mistura quente que permitia reparo automático de rachaduras há 2 mil anos.

Redação
Redação

13 de dezembro de 2025 ·

Uma equipe internacional de pesquisadores confirmou a teoria sobre a receita do concreto extremamente resistente e autocurativo usado pelos antigos romanos. A descoberta foi feita a partir da análise de um canteiro de obras intacto na cidade de Pompeia, preservada pela erupção do Monte Vesúvio em 79 d.C., no sul da Itália. Os resultados, publicados na revista Nature Communications na última terça-feira (9), contradizem os registros históricos e podem inspirar materiais de construção mais duráveis e sustentáveis no futuro.

O estudo comprovou que os romanos utilizavam um método de "mistura quente", combinando cinzas vulcânicas e outros ingredientes secos com cal viva – um calcário seco e altamente reativo. A adição de água desencadeava uma reação química exotérmica, criando pedaços de cálcio dentro da mistura. Esses depósitos, conhecidos como clastos de cal, são a chave para a autorreparação: quando a água penetra em rachaduras, dissolve o cálcio, que depois recristaliza ou reage com outros materiais, selando as fissuras.

Um "instantâneo" único da construção romana

O sítio arqueológico em Pompeia ofereceu uma oportunidade única. "Ao contrário de estruturas acabadas que passaram por séculos de reparos ou desgaste, este sítio arqueológico captura os processos de construção tal como aconteceram", explicou Admir Masic, engenheiro do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e coautor do estudo, em entrevista à agência Reuters. "Para o estudo de tecnologias antigas, simplesmente não há paralelo. Sua preservação excepcional oferece um verdadeiro 'instantâneo' da prática de construção romana em ação."

Os pesquisadores compararam amostras de paredes concluídas, paredes em construção e pilhas de material bruto seco no local. Essa comparação forneceu evidências sólidas que apoiam, sem dúvida, a teoria da mistura a quente, descartando a ideia anterior de que os clastos de cal eram resultado de uma mistura malfeita.

Contradição com os textos históricos

As novas descobertas entram em conflito direto com o principal tratado histórico sobre arquitetura romana, o De Architectura, escrito pelo renomado arquiteto e engenheiro Vitrúvio no século I a.C. O estudo sugere que a descrição de Vitrúvio sobre a fabricação de concreto pode estar imprecisa ou ter sido mal interpretada ao longo dos séculos.

Uma hipótese é que o tratado descrevesse um método anterior, e a técnica tenha evoluído com o tempo. "Uma boa analogia seriam os primeiros telefones", comparou Masic. "Nas décadas de 1920 e 1930: discagem rotativa, linhas de cobre de longa distância. Na década de 2020: smartphones usando sinais digitais comutados por pacotes e redes sem fio."

Implicações para a construção moderna e a restauração

As implicações da descoberta são duplas. Para a indústria da construção civil, entender o segredo da durabilidade milenar do concreto romano pode guiar o desenvolvimento de novos materiais mais duráveis e com menor pegada de carbono.

Para a preservação do patrimônio histórico, a pesquisa é crucial. Ela garante que futuros trabalhos de restauração em estruturas romanas antigas possam ser "historicamente autênticos e estruturalmente sólidos", utilizando técnicas e conhecimentos mais fiéis aos originais.

"Este material consegue se regenerar ao longo de milhares de anos, é reativo e altamente dinâmico", afirmou Masic. "Sobreviveu a terremotos e vulcões. Resistiu debaixo d'água e à degradação causada pelos elementos. Não queremos copiar integralmente o concreto romano hoje. Queremos apenas traduzir alguns ensinamentos desse conhecimento para as nossas práticas modernas de construção."

O estudo foi elogiado por especialistas independentes. Tom Brughmans, arqueólogo da Universidade de Aarhus, na Dinamarca, que não participou da pesquisa, descreveu o trabalho como "simplesmente uma bela observação, o sonho de qualquer arqueólogo". Ele destacou à Scientific American que "poucos temas na arqueologia romana merecem mais nossa atenção do que o desenvolvimento do concreto".

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